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19 de Abril de 2024

Petrobras: trunfo do PT ou munição para opositores?

Sob o governo petista, a empresa cresceu e virou vedete de campanhas. Agora, CPI sobre irregularidades serve como arma de adversários em ano de eleição

Publicado por Felipe Magalhães
há 10 anos

Petrobras trunfo do PT ou munio para opositores

Desde a eleição de 2006, quando PT e PSDB foram às urnas em uma espécie de “referendo” sobre a experiência dos dois principais partidos do País no governo federal, a Petrobras, símbolo do orgulho nacional criado na era Vargas, tem sido usada como um munição de campanha para delimitar os trunfos e pontos frágeis de dois projetos distintos de poder. Naquele ano, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva abria a sua campanha para a reeleição com uma imagem simbólica: aparecia na tevê com as mãos sujas de petróleo e com menções à inauguração da plataforma P-50, no Rio de Janeiro.

A mensagem era clara. Quatro anos antes, o estafe petista não havia poupado críticas em relação à construção de plataformas da petrolífera no exterior e às privatizações promovidas nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso.

Em 2006, Lula tentou colar nos tucanos a pecha de privatistas. E usavam a seu favor o lucro da Petrobras aferido um ano antes: em valores atualizados, 34 bilhões de reais em 2005 contra 16,8 bilhões em 2002, último ano do governo tucano.

"Se eles privatizam tudo (...) vão respeitar a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal? Pense nisso. É Lula de novo, para eles não privatizarem mais nenhuma empresa do povo", dizia o locutor da campanha petista.

Do outro lado, o estafe do então presidenciável Geraldo Alckmin usava o episódio do confisco das receitas de duas refinarias da Petrobras na Bolívia. O caso foi usado pelo tucano nos debates na tevê para acusar o governo petista de “frouxidão” na relação com o país vizinho.

Capitalização. Em 2010, a Petrobras voltou ao centro do debate. Um ano antes, a empresa havia obtido um lucro de 35 bilhões de reais (em valores atualizados). Na reta final da campanha, no fim de setembro, o estafe da então candidata Dilma Rousseff usou como munição as projeções da empresa a partir da descoberta do pré-sal e o sucesso da capitalização da petrolífera na Bovespa (Uma das cinco manchetes do Blog do Planalto sobre o tema no dia celebrava a “maior capitalização da história da humanidade").

Fiador da candidatura Dilma, o então presidente Lula, no auge da popularidade, afirmou em discurso, no meio da campanha para o segundo turno, que a gestão petista havia transformado a “caixa-preta” da Petrobras em uma “caixa-branca”. “A gente sabe o que acontece lá dentro e a gente decide muitas das coisas que ela vai fazer”, disse, durante a inauguração da P-57, em Angra dos Reis. “A Petrobras tem 224 bilhões de dólares para investir até 2014. E não invista para ver o que vai acontecer", disse na época.

Crise. Desta vez, de trunfo a Petrobras passou a ser um tema espinhoso para a campanha à reeleição petista. A companhia foi a que mais perdeu valor de mercado em 2013 em valores absolutos, segundo a consultoria Economatica. Calculado a partir do preço das ações, o valor passou de 254 bilhões de reais em dezembro de 2012 para 214 bilhões em 2013. A oposição acusa o governo controlar a inflação baseada na manutenção artificial do preço da gasolina no mercado doméstico, o que tiraria a competitividade da empresa. O lucro no ano passado, em compensação, foi de 23 bilhões de reais.

Suspeitas. Mais do que isso, a empresa passou a ser alvo devido a uma série de suspeitas relacionadas à compra de uma refinaria no Texas. Nesta terça-feira 8, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado deve decidir se confirma a decisão do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), de rejeitar questões de ordem do governo e da oposição sobre uma nova CPI do Fim do Mundo, criada com o intuito de investigar todo mundo para, no fim, não investigar ninguém. Além das suspeitas sobre a petroleira, a comissão deve apurar o cartel do metrô em São Paulo, ponto sensível aos tucanos, e irregularidades em refinarias Pernambuco, reduto do presidenciável do PSB, Eduardo Campos.

O impasse foi criado quando quatro pedidos de criação de CPIs foram apresentados nas últimas semanas. A oposição é autora das duas propostas para investigar exclusivamente os negócios da Petrobras. A compra da refinaria de Pasadena, no Texas, é a que tem maior potencial explosivo contra o Planalto. Em 2006, a Petrobras pagou 360 milhões de dólares por 50% da refinaria americana.

O valor é muito superior ao pago um ano antes pela companhia belga Astra Oil pela refinaria inteira (42,5 milhões de dólares). Em 2008, a Petrobras e a Astra Oil se desentenderam e uma decisão judicial naquele país obrigou a estatal brasileira a comprar a parte que pertencia à empresa belga. No fim das contas, a aquisição de Pasadena custou 1,18 bilhão de reais à Petrobras.

No inicio do mês, a Controladoria-Geral da União (CGU) abriu uma sindicância para apurar as denúncias de pagamento de suborno por parte da empresa holandesa SBM Offshore a empregados da Petrobras.

A compra da refinaria no Texas, em 2006, com o aval da presidenta Dilma, então ministra-chefe da Casa Civil e presidente do Conselho de Administração da Petrobras, foi embasada em um parecer técnico “falho”, segundo admitiu o próprio governo.

A compra da refinaria está sendo investigada pela Polícia Federal, pelo Tribunal de Contas da União, Ministério Público e Congresso Nacional por suspeita de superfaturamento e evasão de divisas.

Para piorar, a Petrobras entrou no noticiário após a PF deflagrar a Operação Lava Jato, que levou à prisão, entre outros, o doleiro Alberto Youssef. Segundo a revista Época, a polícia apreendeu documentos na operação que indicam o pagamento de propinas por companhias com contratos com a Petrobras. Os valores eram depositados na conta de uma empresa do doleiro Alberto Youssef. As negociações também contariam com a participação do ex-diretor de abastecimento Petrobras Paulo Roberto Costa, preso desde 20 de março.

O esquema de lavagem de dinheiro pode ter movimentado 10 bilhões de reais em quatro anos.

O escândalo respingou no colo do vice-presidente da Câmara, o deputado André Vargas (PT-PR), que viajou nas férias com um jato emprestado pelo doleiro, a quem prometia ajuda em uma conversa telefônica interceptada. Diante da revelação, feita pela revista Veja, o deputado pediu licença não-remunerada na Casa.

No mesmo dia, a Folha de S. Paulo revelou que a Petrobras assinou pelo menos 90 bilhões de reais em contratos nos últimos três anos sem fazer qualquer tipo de disputa entre concorrentes – escolhendo, assim, o fornecedor de sua preferência.

O valor contratado sem licitação corresponde a cerca de 28% dos 316 bilhões de reais gastos pela Petrobras entre 2011 e 2013 com empresas que não pertencem à estatal ou que não são concessionárias de água, luz, entre outras.

As revelações municiaram a oposição para a criação da CPI Petrobras. Como contragolpe, o governo encaminhou dois requerimentos para a instalação de CPIs no Congresso para investigar suspeitas levantadas sobre a construção da Refinaria Abreu e Lima, reduto de Eduardo Campos, em Pernambuco, e os contratos de construção dos metrôs de São Paulo e do Distrito Federal.

Resta saber quem ganha e quem perde na troca de farpas – e de que maneira elas vão respingar nos partidos dos três principais candidatos à corrida presidencial.


Fonte: http://www.cartacapital.com.br/política/petrobras-trunfo-do-pt-ou-municao-para-opositores-3712.html

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/petrobras-trunfo-do-pt-ou-municao-para-opositores/115404039

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